Top 5 Curiosidades das Copas: 1930, 34 e 38
A história das Copas do Mundo apresenta fatos curiosos que aconteceram durante suas edições, desde a primeira em 1930 no Uruguai. Pensando nisso preparamos uma série de matérias chamadas “Top 5 Curiosidades das Copas”. Começamos então com as tres primeiras, 1930, 1934 e 1938, realizadas antes da II Guerra Mundial.
1930 – sede: Uruguai | campeão: Uruguai
1) O peso das Olimpíadas e a escolha do país-sede
Um dos fatores que pesou na escolha do Uruguai como sede da Copa do Mundo de 1930 foi o desempenho da Seleção Celeste nas duas últimas Olimpíadas.
Empolgados com as medalhas de ouro nos Jogos de 1924 e 1928, os uruguaios não mediram esforços para sediar o evento. Insatisfeitos com a escolha da FIFA, mesmo com a boa vontade dos anfitriões, muitos países europeus abdicaram da disputa.
Várias pessoas consideram o Uruguai tetracampeão mundial, já que até 1928, a Olimpíada era o principal torneio de futebol entre seleções. Prova disso, é que no escudo da AUF (Asociación Uruguaya de Fútbol) consta quatro estrelas alusivas aos títulos de 24, 28, 30 e 50.
2) A viagem
Em 1930, não havia linhas regulares de transporte aéreo entre Europa e América do Sul. Dessa maneira, o navio Conte Verde partiu de Gênova, no dia 20 de junho, com a delegação da Romênia. Na primeira parada, no sul da França, embarcaram a seleção local e a comitiva da FIFA. Em Barcelona, foi a vez da seleção belga subir no navio. No dia 2 de julho, no Rio de Janeiro, os brasileiros também pegaram carona.
Como a viagem era longa, sobretudo para os europeus, os jogadores faziam exercícios no próprio navio, mas sempre com certa desconfiança entre eles. Somente no dia 5 de julho, o Conte Verde desembarcou em Montevidéu.
A seleção da Iugoslávia optou em viajar em um navio-correio, separado das demais delegações. O espaço era mais reduzido – os atletas mantinham a forma apenas com ginástica – e a viagem foi mais longa, com saída no dia 17 de junho e chegada no dia 8 de julho.
3) Estádio Centenário
O Estádio Centenário, batizado em homenagem aos 100 anos do Uruguai, foi construído para a Copa do Mundo de 1930. A princípio foi projetado para receber 102 mil pessoas, mas para agilizar a construção da obra que já estava atrasada, a capacidade foi reduzida para 70 mil espectadores.
Essa mudança era realmente necessária, visto que o Centenário não ficou pronto a tempo hábil de receber os primeiros jogos realizados nos estádios Pocitos e Parque Central. No entanto, ao contrário de alguns prognósticos, foi entregue durante a Fase de Grupos, recebendo inclusive as semifinais e a final entre Uruguai e Argentina.
Veja a história do Estádio Centenário aqui.
4) Seleção Carioca
O Brasil já havia ganhado duas Copas Américas, em 1919 e 1922, e poderia ser colocado como uma das seleções favoritas a vencer aquele mundial.
Mas um imbróglio entre CBD (Confederação Brasileira de Desportos), com sede no Rio de Janeiro, e Apea (Associação Paulista de Esportes Atléticos), sediada em São Paulo culminou em uma grande perda para a seleção brasileira.
Somente jogadores que atuavam por clubes cariocas foram convocados para representar o Brasil na Copa do Mundo de 1930.
A exceção fica por conta de Araken Patusca, sem renovar com o Santos e por isso sem vínculo com a Apea, o jogador assinou um contrato-fantasma com o Flamengo para disputar o Mundial.
Reza a lenda que a rivalidade entre cariocas e paulistas foi tão descabida, que uma multidão reuniu-se em frente a jornais de São Paulo para comemorar a derrota e a eliminação do Brasil para a Iugoslávia.
A Seleção Brasileira (Carioca) não passou da Fase de Grupos.
5) Manco
Esse era o apelido de Hector Castro, autor do 1º gol do Estádio Centenário e do título do Uruguai na Copa do Mundo de 1930.
“Manco”, em espanhol, significa maneta. O atacante uruguaio perdeu a mão direita em um acidente com a serra elétrica quando ainda era criança e trabalhava como auxiliar de carpinteiro.
Bônus: não poderíamos deixar de citar a seleção da Bolívia que jogou contra a Iugoslávia na Fase de Grupos de 1930 com camisas brancas bordadas “Viva Uruguay”!
• Todos os jogos ilustrados da Copa de 1930 aqui.
Uma raridade: Cerimônia de Abertura da primeira Copa do Mundo: 13 de julho de 1930, Estádio Centenário – Montevidéu | Uruguai:
1934 – sede: Itália | campeão: Itália
1) País-sede – Propaganda fascista
O futebol já era bastante popular na Itália. E o primeiro-ministro populista Benito Mussolini enxergava o esporte, também como uma ferramenta de promoção do governo fascista. Em 1932, a FIFA oficializou o país como sede da próxima Copa do Mundo.
O sucesso da 1ª edição obrigou a FIFA a realizar as Eliminatórias. Em represália ao boicote que sofreu em 1930, o Uruguai decidiu ficar de fora e é até hoje, o único campeão mundial a não defender o título.
2) Itália de Babel
A Itália era forte candidata ao título. Não apenas por conta da força da torcida e pela pressão sobre os árbitros – os anfitriões foram beneficiados pela arbitragem em alguns jogos.
Outro fator determinante, era a facilidade para conseguir a naturalização italiana. Para defender a Azurra, era preciso apenas ter sobrenome italiano.
Dessa maneira, cinco “estrangeiros” jogaram pela Itália, entre eles o argentino Luisito Monti (vice-campeão em 1930) e o brasileiro Anfilogino Guarisi Marques, ou Filó.
3) CBD x FBF
O futebol brasileiro vivia a transição entre as eras amadoras e profissionais, fase essa que já previa premiação/salário aos jogadores. Duas grandes entidades regiam o futebol no país: a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) e a FPF (Federação Brasileira de Futebol).
No entanto, a FIFA reconhecia apenas a CBD (amadora), apesar de a maioria dos grandes clubes brasileiros estarem filiados à FPF (profissional). O Botafogo ainda vivia no amadorismo e por isso, o dirigente Carlito Rocha foi o indicado para montar a seleção.
Para tentar formar uma equipe forte, a saída encontrada pelo cartola foi contratar jogadores apenas para a Copa do Mundo. Os clubes não viram a estratégia com bons olhos e mais uma vez, o Brasil foi para o Mundial sem a força máxima. Dos 17 convocados, 15 pertenciam ao Botafogo, Vasco ou São Paulo.
4) Óculos em campo!
Já ouviu falar do suíço Leopold Kielholz? No jogo entre Holanda e Suíça pelas oitavas-de-final, ele se tornou o primeiro jogador a usar óculos em Copas do Mundo. E o acessório trouxe sorte. O atacante marcou dois gols na vitória de 3×2 de sua seleção. Ele ainda balançaria as redes outra vez nesse Mundial. Foi na derrota da Suíça para a Tchecoslováquia nas quartas-de-final.
5) Copa do Mundo… ou Eurocopa?
A Copa do Mundo de 1934 teve cara de Eurocopa. Isso porque 12 das 16 seleções eram do Velho Continente. Argentina, Brasil, Egito (a África estreava em Copas) e Estados Unidos eram os “intrometidos”.
No entanto, logo na primeira fase (oitavas-de-final) as quatro seleções de fora da Europa foram eliminadas. Confira os confrontos das quartas-de-final: Alemanha x Suécia; Itália x Espanha; Tchecoslováquia x Suíça; Áustria x Hungria.
Nunca mais em Copas do Mundo houve uma quartas-de-final com representantes de um único continente.
• Todos os jogos ilustrados da Copa de 1934 aqui.
1938 – sede: França | Campeão: Itália
1) País-sede, país-natal
O presidente da FIFA Jules Rimet foi talvez o principal idealizador da Copa do Mundo. Seu nome, inclusive, ficou eternizado na taça entregue aos campeões mundiais de 1930 a 1970 (até 1946, o troféu era conhecido como “Taça Vitória das Asas de Ouro”).
A Alemanha, que recebeu as Olimpíadas de 1936, pleiteava sediar a Copa do Mundo de 38. A Argentina também se candidatou – pensava que a FIFA ia seguir o revezamento entre os continentes: América do Sul 1930, Europa 1934. Mas o francês Jules Rimet queria a Copa em seu país-natal. Pensou até mesmo em antecipar o torneio para 1937, simultaneamente à exposição de arte moderna.
A ideia de mudar o ano foi descartada. Mas, com 19 votos, a França foi eleita a sede da Copa do Mundo de 1938. A Argentina teve três votos e a Alemanha apenas um (o dela mesmo).
2) Seleção inativa
O Brasil foi eliminado logo no 1º jogo da Copa do Mundo de 34. Depois excursionou pela Europa e fez amistosos contra clubes do Velho Continente. Quando voltou ao país, a seleção ficou ociosa.
A Argentina, insatisfeita por não ter sido escolhida como sede, decidiu boicotar o Mundial. Todos os países sul-americanos aderiram ao boicote e o Brasil não precisou disputar as Eliminatórias.
Sendo assim, de 1935 a 1937, a seleção fez apenas três partidas. Um amistoso contra o River Plate (2×1 Brasil) e dois jogos pelo Sul-Americano, com vitória de 3×2 sobre o Peru e derrota por 2×0 para a Argentina.
Apesar do tempo inativo, o Brasil fez um bom papel na Copa do Mundo de 1938, terminando em 3º lugar. Nas oitavas-de-final, a seleção venceu a Polônia por incríveis 6×5. O 5º gol brasileiro foi formado por Leônidas da Silva. Um gol de pelada. O pé-direito de sua chuteira havia estragado e enquanto consertavam a costura, o atacante, descalço, fuzilou a rede do goleiro polonês. O próprio Leônidas conta essa história.
3) Meia-lua e nova bola
A Copa do Mundo de 1938 trazia duas grandes novidades. Os gramados passaram a demarcar a meia-lua à frente da grande área, artifício para manter os jogadores a 9,15m da marca do pênalti.
Outra inovação foi a bola sem o tiento externo – uma tira de couro que amarrava dentro do corpo da bola, o bico para enchê-la. O bico da bola passou a ser encaixado entre os gomos e a ausência do tiento permitia ao jogador cabecear a bola sem se machucar.
4) Nazismo
Na iminência da II Guerra Mundial, a Europa vivia um clima de tensão política. A Áustria que havia se classificado para a Copa do Mundo foi anexada à Alemanha às vésperas da estreia e por isso, a Suécia se classificou automaticamente às quartas-de-final. Esse é até hoje, o único W.O. na história das Copas.
Antes dos jogos das oitavas-de-final (houve um jogo-desempate), jogadores alemães fizeram gestos fascistas e foram vaiados pela torcida que compareceu ao Estádio Parc de Princes, em Paris. A Alemanha foi eliminada, mas o cheiro de guerra estava no ar.
5) Azurra de preto
Benito Mussolini, ditador italiano, havia mandado um telegrama bem direto à seleção nacional: “vencer ou morrer”.
Nas quartas-de-final, a pressionada Itália encontrou a França pelo caminho. Os anfitriões usavam camisas azuis, obrigando a “Azurra” a abandonar sua cor tradicional.
Os italianos aproveitaram a oportunidade para fazer uma “média” com Mussolini e entraram em campo trajados com um uniforme preto, a cor do fascismo.
• Todos os jogos ilustrados da Copa de 1938 aqui.
Próximo “Top 5 Curiosidades das Copas”: 1950, 54 e 58.
Fontes:
• Futbox – Centro De Pesquisa Gráfica Sobre Futebol
• Livro – O mundo das Copas, de Lycio Vellozo Ribas
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