Valtinho, o ponta.

Valtinho era um ponta veloz. Muito veloz e muito burro também. O exemplo perfeito de velocidade desprovida de inteligência. Tanto que nunca foi titular. O técnico da equipe, o Seu Antônio, não era muito a favor dos pontas. Gostava de jogar no 4-4-2, com os dois atacantes mais enfiados. Mas Valtinho não desistia. Era o primeiro a chegar e o último a sair dos treinos. Só entrava em campo ali, pois em dia de jogo, coitado, era um banco atrás do outro.

Seu time vinha bem na competição, e pela primeira vez em sua história iria disputar uma final de campeonato. Todos estavam preparados para a decisão, inclusive Valtinho, que não desistia de colocar a chuteira no gramado pelo menos uma vez. E se fosse no jogo mais importante de sua equipe, melhor ainda.

Domingo. Casa cheia. Segundo tempo. Zero a zero no placar. Jogo difícil, os dois times dando “tudo de si”. Valtinho nervoso na ponta do banco de reservas, suas pernas finas e tortas tremiam. Afinal, o treinador já tinha feito duas substituições, faltando uma para queimar a regra três.

Aos quarenta minutos, uma falta violenta na intermediária tira o atacante do jogo. O defensor adversário é expulso. A galera vibra nas arquibancadas. Era a chance de matar a partida e ser campeão. Mas quem entraria? Num ato de puro reflexo e intuição, Seu Antônio disparou: “Valtinho! Pro jogo!”.

Era a chance do ponta. Poderia sair consagrado, carregado como herói, manchete nos jornais, capa das revistas. E na primeira bola que recebeu na direita, ouviu a voz que lhe deu coragem: “Vai Valtinho!”. E ele foi.

Recentemente foi visto lá pelas bandas de Tocantins. Ainda correndo. Ou fugindo.

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André Fidusi

Publicitário e jornalista por formação, ilustrador por vocação. Futebol na veia. Quem pede recebe, quem desloca tem preferência. Pegar de pé é dibra. Vamo que vamo!

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