Futebol x Deus x Superstição

E Deus criou o futebol. Na verdade acho que não foi Deus não. Pode ter sido um deus, ou os deuses. O que eu sei é que futebol e religião não se misturam, tipo água e óleo, macarrão com feijão.

Nem sempre foi assim, pelo menos comigo. Já rezei muito vendo uma peleja. Tinha certeza que Deus abriria as nuvens e lançaria seu poder para interceder por minhas preces. Ledo engano. Na hora do aperto a gente lembra Dele. Egoísmo puro da nossa parte. E os outros onze do lado de lá não merecem também? Pois é. Se fosse assim, o time da Caridade Futebol Clube ia ser campeão intergalático todo ano. Pedir para não machucar, que não tenha confusão, acho até que o Todo Poderoso atende. Mas pedir para a bola fazer aquela curva, desviar da barreira e entrar no ângulo? Tenha dó. Não treina não para ver o que acontece. O pessoal lá do céu já tem preocupação demais e tanto faz se seu time está no desespero e não foi competente para sair dessa situação sozinho.

Tem jogador que quando vai dar entrevista, de cada dez palavras que fala, oito são “Deus” (as outras duas são “três pontos”). O discurso é sempre o mesmo: “Se Deus quiser”, “Deus vai ajudar”, “Graças a Deus”. Devia ter virado padre, ou pastor, menos jogador de futebol. Se ainda se referissem aos deuses com d minúsculo, mas não, apelam para o Chefão mesmo. Acham que dentro das quatro linhas virá um santo e pronto. Se der certo, fora do gramado podem fazer tudo errado, encher a cara, embuchar uma maria chuteira ou ver Zorra Total.

Agora, se tem uma coisa que combina com futebol é a superstição. Por mais absurdo que isso possa parecer. Pedir a Deus não adianta, mas usar a mesma cueca nos dias de jogos pode dar certo. É estranho, mas não sei de onde vem essa magia. Deve ser dos deuses do futebol, que nada tem a ver com o Deus com D maiúsculo. Acho que eles gostam disso. São meio sádicos, politicamente incorretos, fumam, jogam pôker e tomam uma birita. O diálogo deve ser mais ou menos assim:

– Olha lá aquele idiota! Não lava aquela camisa de jeito nenhum. O time dele já jogou umas dez vezes esse mês.

– Vamos ter que fazer o time dele perder. A catinga já está vindo aqui. Quem sabe ele muda de superstição?

– É o jeito. “Cabruuuuuum” (onomatopéia de magia lançada).

– Sacanagem hein? Não precisava ser de 4 a 0!

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André Fidusi

Publicitário e jornalista por formação, ilustrador por vocação. Futebol na veia. Quem pede recebe, quem desloca tem preferência. Pegar de pé é dibra. Vamo que vamo!

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