Mercado da Bola

Janeiro de 2000. Como bom mineiro, fui passar minhas férias em Cabo Frio. Tinha 13 anos e minha maior preocupação era com o Mercado da Bola (e com os torneios de jacarezinho que o meu tio organizava). Quem o meu time contratou? Quem vai embora? E o meu arquirrival: se reforçou bem ou só está trazendo perna de pau?

8h da manhã e eu já estava de pé para mais um dia de praia. Protetor solar daqui, guarda-sol acolá. Também não podia esquecer as raquetes de frescobol para os intervalos dos torneios de jacarezinho. Se a turma animasse, a bola de futebol também estava debaixo dos braços.

10h da manhã e finalmente conseguíamos sair de casa. Antes de chegar a praia, um velho ritual: “Mãe, me dá um real?”. Não queria picolé. Muito menos refrigerante ou água de coco. Pegava o dinheiro e corria até a banca mais próxima para comprar um jornal de esportes.

O jornal não precisava trazer as notícias esmiuçadas dos clubes da minha cidade. Muito menos da minha cidade. Só queria abrir no “Vai e Vem”. Era por lá que eu me informava. Fulano foi pro Flamengo. Ciclano negocia com Corinthians e Palmeiras. Beltrano vai jogar na Europa.

Enquanto meu pai e meus tios tomavam uma cerveja debaixo da sombra, mãe, irmã, primas e tias se revezavam entre tomar sol e caminhar. E eu na minha cadeira devorando o Vai e Vem.

14 anos depois volto pra Cabo Frio. Não é mais preciso comprar o jornal para saber do Vai e Vem. O imediatismo das informações não me permite aguçar a curiosidade e esperar 24 horas pelas novidades do Mercado da Bola. Agora tem esse tal de 3G, 4G, 5G. Ê saudade daqueles tempos…

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Gabriel Godoy

Jornalista; frustrou-se na tentativa de ser um jogador profissional; peladeiro; apaixonado por futebol de campo, de rua, de botão, de vídeo-game...

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