Top 5 Curiosidades das Copas: 1962, 66 e 70

Terremoto coloca o Chile em xeque. Um basta à naturalização. Anti-Itália. Garrincha e o drible no tribunal. Na TV, mas com dois dias de atraso. A história das Copas do Mundo apresenta fatos curiosos que aconteceram durante suas edições, desde a primeira em 1930 no Uruguai. Pensando nisso preparamos uma série de matérias chamadas “Top 5 Curiosidades das Copas”. Seguimos com as Copas de 1962, 1966 e 1970.

 

1962 – sede: Chile | campeão: Brasil


1) País-sede ameaçado

Após vencer a concorrência com a Argentina, no dia 10 de julho de 1956, o Chile foi homologado como a sede oficial da Copa do Mundo de 62.

Tudo parecia correr dentro da normalidade, até que em 1960, o país sofreu dois terremotos. Calcula-se que um deles, atingiu 9,5 pontos na escala Richter, o mais violento do mundo no Século XX. O saldo foi terrível: milhares de mortos e 25% da população desabrigada.

Quando tudo indicava que o Chile desistiria de sediar o Mundial, Carlos Dittborn Pinto, presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol disse: “Porque nada tenemos, lo haremos todo” (“Porque não temos nada, faremos tudo”). A FIFA deu um voto de confiança e o país se reestruturou a tempo de receber os jogos da Copa do Mundo. Dittborn, no entanto, morreu antes do início do torneio.

"Porque nada tenemos, lo haremos todo"

“Porque nada tenemos, lo haremos todo”

 

2) Naturalização (desen)freada

Entre os favoritos para vencer a Copa do Mundo de 62 estavam Espanha e Itália. O principal motivo que colocavam as seleções na seleta lista de candidatos ao título era a naturalização de jogadores estrangeiros.

A Azurra, por exemplo, contava com os brasileiros Sormani e Mazzolla e os argentinos Maschio e Sivori em seu elenco. Todos eles com ascendência italiana. A Fúria foi além e naturalizou três jogadores sem qualquer descendência espanhola: o húngaro Ferenc Puskas, o argentino Di Stéfano e o paraguaio Eulogio Martínez.

A FIFA não via esse cenário com bons olhos e resolveu colocar limites na onda de naturalização. A nova lei exigia que o jogador só poderia defender uma seleção se ele e/ou os pais tivessem nascido no país em questão.

3) Torcida anti-Itália

Apesar dos esforços do Chile para receber a Copa do Mundo de 62, o país foi alvo de críticas de alguns jornalistas, entre eles, o italiano Corrado Pizzinelli. Em um artigo, Pizzinelli afirmou que muitos indigentes e prostitutas ocupavam as ruas do Chile, o que gerou revolta do povo local.

1962: Batalha de Santiago

1962: Batalha de Santiago

Armou-se, então, um clima de guerra contra a seleção da Itália. Na estreia da Azurra, era notória a preferência da torcida chilena pela Alemanha. No segundo jogo, contra os anfitriões, os italianos chegaram a jogar flores para as arquibancadas. De nada adiantou. O jogo pegou fogo com direito a socos, pontapés e expulsões. Só para se ter ideia, o 1º tempo durou 72 minutos. No final, vitória do Chile: 2×0. O jogo entrou para a história como “A Batalha de Santiago“.

4) Um drible no tribunal

Ainda na fase de grupos, o Brasil, por motivo de lesão, perdeu Pelé para o restante do torneio. Amarildo foi o substituto e no seu jogo de estreia contra a Espanha, marcou os dois gols da vitória por 2×1.

Contudo, o grande nome da Copa do Mundo foi Mané Garrincha. Na semifinal contra o Chile, o “Anjo das Pernas Tortas” fez dois gols, mas após falta grave em Eladio Rojas, foi expulso de campo.

O trio Garrincha, Amarildo e Pelé no Chile

O trio Garrincha, Amarildo e Pelé no Chile

Na época, não existia cartão vermelho (implementado somente na Copa de 1970) e a suspensão por agressão era de no mínimo um jogo. No julgamento, o árbitro Arturo Yamasaki disse que a expulsão do jogador deveu-se a informações passadas pelo bandeirinha Esteban Marino, que então foi convocado a depor. “Misteriosamente”, ele não apareceu e sem provas, o craque brasileiro foi liberado para jogar a final. Na decisão, Garrincha ajudou o Brasil a vencer a Tchecoslováquia por 3×1.

1962 - Final: Brasil vs Tchecoslovaquia

1962 – Final: Brasil vs Tchecoslovaquia

 

5) Por isso colo meu ouvido no radinho…

A Copa do Mundo de 62 foi a primeira a ser televisionada para o Brasil. Mas a transmissão não era ao vivo e os brasileiros tinham que esperar pelas fitas de videotapes trazidas ao país por aviões. Os jogos eram transmitidos pela TV, em média, com dois dias de atraso.

Pelo radinho, a torcida brasileira pôde comemorar o bicampeonato mundial. A base era a mesma da última Copa, sendo que com exceção dos zagueiros, o time da estreia era o mesmo da final de 58. Até hoje, Gylmar é o único goleiro bicampeão titular de Copas do Mundo.

Todos os jogos ilustrados da Copa de 1962 AQUI.

 

1966 – sede: Inglaterra | campeão: Inglaterra

 

Africanos contra o apartheid. O cão Pickles e o leão Willie. A questão anglicana. E a maior polêmica da história do futebol!

1) Boicote africano

A Inglaterra (anfitriã) e o Brasil, bicampeão na época, tinham 2 das 16 vagas asseguradas. Outras 70 seleções decidiram participar das Eliminatórias, mas o número reduziu para 51 após a desistência de nações africanas, inconformadas com o fato de a FIFA aceitar a inscrição da África do Sul, que vivia o Apartheid (1949 a 1990 – significado: “vidas separadas”) regime de segregação racial.

Placa à beira da praia na Cidade do Cabo - África do Sul (apartheid).

Placa à beira da praia na Cidade do Cabo – África do Sul (apartheid).

Em 1964, a entidade desfiliou os sul-africanos, mas a maioria das seleções já havia abandonado as Eliminatórias. Na época, a FIFA concedia para países da África, Ásia e Oceania uma única vaga, preenchida pela Coreia do Norte.

2) O faro de Pickles

Antes de a Copa do Mundo de 66 começar, a Taça Jules Rimet foi roubada de uma exposição na cidade de Londres. A polícia britânica tentou em vão encontrar seu paradeiro. Mas alguns dias depois, o inglês David Corbett passeava com seu cachorro Pickles, que ao farejar um arbusto, localizou o troféu enrolado em jornais.

Pickles e a Taça Jules Rimet recuperada

Pickles e a Taça Jules Rimet recuperada

 

3) Leão Willie

Além do cão, um outro animal faz parte da história do Mundial de 1966: o leão Willie foi a primeira mascote oficial de Copas do Mundo e virou febre nacional. A ideia de lucrar com o licenciamento de imagem se tornou realidade. O evento, como um todo, foi um sucesso e recebeu aproximadamente 50 mil pessoas por partida nos estádios.

1966: Souvenirs do Wille

1966: Souvenirs do Wille

 

4) Domingo sem futebol

Acredite se quiser. Na época da Copa do Mundo de 66, por imposição da religião anglicana, era proibida na Inglaterra, a realização de partidas aos domingos. Isso só mudaria em 1973, quando a Federação Inglesa comprou a briga por necessidade de levar mais pessoas aos estádios – o público dos jogos de futebol no país estava em queda, boa parte disso, por conta da crise de energia que impedia a realização de jogos à noite com os refletores ligados.

5) A maior polêmica da história do futebol

Ingleses e alemães fizeram uma das finais de Copas do Mundo mais emocionantes da história. A torcida local já comemorava o título quando aos 44 minutos da etapa complementar, Weber fez 2×2 e silenciou o Estádio de Wembley.

Na prorrogação, Geoff Hurst desempatou a partida em favor dos anfitriões em um lance polêmico: a bola bateu no travessão e na linha, mas o juiz validou o gol. O atacante britânico ainda marcou mais um e é o único jogador a fazer três gols em uma final de Copa do Mundo.

1966 - Final: Alemanha Ocidental vs Inglaterra

1966 – Final: Alemanha Ocidental vs Inglaterra

Bobby Charlton (ENG) e Franz Beckenbauer (FRG)

Bobby Charlton (ENG) e Franz Beckenbauer (FRG)

 

Confira a animação stopmotion do polêmico gol de Geoff Hurst na final de 1966:

 

 

Todos os jogos ilustrados da Copa de 1966 AQUI.

 

1970 – sede: México | campeão: Brasil

 

O fator Olimpíadas. Nova bola. Mudanças na regra. Os gols que Pelé não fez. O Jogo do Século e a goleada na final.

1) Dobradinha

México e Argentina eram os candidatos a receber a Copa do Mundo de 1970. O país norte-americano sofria restrições de seleções europeias por conta da altitude de seus estádios. Porém, o momento econômico aliado ao fato de que o México já se programava para receber os Jogos Olímpicos de 1968, pesaram na decisão e em 1964 o país foi oficializado como a sede do Mundial. Com capacidade para mais de 100 mil espectadores, o Estádio Azteca seria o palco principal do torneio.

1970 - Estádio Azteca: final entre Brasil e Itália

1970 – Estádio Azteca: final entre Brasil e Itália

 

2) A bola

Um novo padrão de bola foi adotado para a Copa do Mundo de 70. A Telstar, fabricada pela Adidas, mantinha melhor a esfericidade do “brinquedo”. O design também trouxe novidades: o xadrez com os pentágonos pretos e hexágonos brancos substituía o modelo anterior de couro todo marrom.

Até hoje o design da bola de 1970 é considerado o mais emblemático das bolas de futebol. Na duas imagens abaixo a Telstar e suas variações de cor em relação aos pentágonos e hexágonos.

1970 - G3: Brasil (Carlos Alberto) vs Inglaterra (Bobby Moore)

1970 – G3: Brasil (Carlos Alberto) vs Inglaterra (Bobby Moore)

1970 - semifinal: Brasil vs Uruguai

1970 – semifinal: Brasil vs Uruguai

 

3) Regra 3 e os cartões

O formato da tabela era o mesmo das Copas anteriores: as seleções seriam distribuídas em quatro grupos e as duas primeiras avançariam às quartas-de-final.

No entanto, os cartões amarelos e vermelhos (não houve expulsão em 70) e a regra três (substituição de jogadores titulares – na época, apenas duas por equipe) passaram a vigorar no México, o primeiro transmitido via satélite e a cores para todo o planeta.

A razão da utilização dos cartões aconteceu no Mundial anterior. Num jogo entre Argentina e Inglaterra, válido pela Copa de 1966, o capitão argentino Antonio Rattín foi expulso de campo pelo árbitro alemão Rudolf Kreitlein. Como o jogador não entendeu o que o árbitro queria fazer, acabou causando uma confusão. Depois disso,a FIFA passou a estudar uma linguagem universal para ajudar os árbitros. O inglês Ken Aston deu a solução. Baseado nos semáforos, sua esposa, Hilda, sugeriu o uso de cartões, e eles começaram a ser usados na Copa de 1970, no México.

4) Os deuses do futebol quiseram assim…

A Copa do Mundo de 70 ficou marcada por lances inesquecíveis, entre eles os gols que Pelé não fez. Na fase inicial, o craque percebeu o goleiro da Tchecoslováquia adiantado e chutou do meio-de-campo, a bola passou rente à trave. Ainda na primeira fase, contra a Inglaterra, o Rei cabeceia e Gordon Banks faz a defesa considerada a mais bonita da história dos mundiais. Na semifinal contra o Uruguai, o camisa 10 por pouco não fez dois golaços históricos. No primeiro, pega reposição de Mazurkiewicz, que se recupera e segura firme. No último, dá um drible de corpo no goleiro e chuta a centímetros da trave.

Pelé chuta antes do meio campo e o goleiro Victor (CZE) observa aliviado a saída da bola

Pelé chuta antes do meio campo e o goleiro Victor (CZE) observa aliviado a saída da bola

 

Gordon Banks defende a cabeçada de Pelé

Gordon Banks defende a cabeçada de Pelé

 

Pelé dribla Mazurkiewicz (URU) sem encostar na bola

Pelé dribla Mazurkiewicz (URU) sem encostar na bola

 

5) O Jogo do Século e a Despedida do Rei

A semifinal entre Itália e Alemanha Ocidental ficou conhecida como “O Jogo do Século”. Após 1×1 no tempo normal, a Azzurra levou a melhor na prorrogação: 4×3. Beckenbauer, o craque da Alemanha, deslocou o ombro e jogou toda a prorrogação com uma tipoia já que sua seleção já havia estourado o limite de duas substituições.

1970 - semifinal: Beckenbauer contra a Itália

1970 – semifinal: Beckenbauer contra a Itália

Na final, a Itália não suportou a seleção brasileira, uma das melhores de todos os tempos e foi goleada na final por 4×1. Foi o último jogo internacional de Pelé, o único jogador a ser campeão de três Copas do Mundo (1958, 1962 e 1970). O Brasil ficou com a posse definitiva da Taça Jules Rimet – que seria roubada da sede da CBF em 1983 e supostamente derretida para a venda do ouro.

 

Veja a animação stopmotion gol do título marcado por Carlos Alberto Torres na final de 70:

 

Todos os jogos ilustrados da Copa de 1970 AQUI.

 

Próximo “Top 5 Curiosidades das Copas”: 1974, 78 e 82.

 

Fontes:

Futbox – Centro De Pesquisa Gráfica Sobre Futebol

• Livro – O mundo das Copas, de Lycio Vellozo Ribas

 

 

 

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Adriano Ávila

A prova inquestionável que existe vida inteligente fora da Terra é que eles nunca tentaram contato com a gente.

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