Há 8 anos acontecia uma partida histórica de futebol na Palestina: equipes de Gaza e Cisjordânia se encontravam após 15 anos do bloqueio imposto por Israel
Duas equipes palestinas foram autorizadas a cruzar o território israelense pela primeira vez em 15 anos.
Quando a equipe líder de futebol de Gaza entrou em campo para a final da Copa da Palestina, na Cisjordânia, os jogadores foram recebidos como heróis nacionais. A multidão vibrou quando a equipe mais jovem e menos experiente, o Ittihad Shuja’iiya, entrou no estádio de Hebron, no dia 6 de agosto de 2015, uma quinta-feira, para enfrentar a equipe da casa, o Al Ahly.
Era a primeira vez em uma década e meia que uma equipe da Cisjordânia cruzava o estado de Israel para jogar na Faixa de Gaza. Tambores batendo, buzinas tocando e os gritos de “Shuja’iiya” ecoavam pelas arquibancadas, envolvendo os torcedores das duas equipes.
O jogo da volta marcou também, primeira vez nesses 15 anos, que Israel permitisse que uma equipe de Gaza cruzasse o seu território para disputar uma partida de futebol na Cisjordânia.
A Copa da Palestina tradicionalmente colocava a melhor equipe de Gaza contra a melhor equipe da Cisjordânia, mas os dois lados não se encontraram no mesmo campo, desde que Israel impôs as restrições após a primeira intifada em 2001.
O vencedor da Copa da Palestina de 2015 representaria a Palestina na próxima Copa da Confederação Asiática de Futebol (AFC).
No entanto, chegar à final já havia sido uma grande vitória para Gaza, como afirmou Ibrahim Muajib Wadi, membro da equipe Shuja’iiya.
“Este jogo é uma grande vitória para Shuja’iiya e quebra o cerco. Toda Gaza é Shuja’iiya”, disse Muajib, segurando a bandeira verde do clube, cercado por montes de metal retorcido e cimento desmoronado no bairro de Shuja’iiya, onde ele passou todos os seus 27 anos de vida.
“Todos nós vivemos de debaixo dos escombros. Cada jogador conhece alguém que foi morto ou ferido, cada jogador teve sua casa destruída.” Completou.
A ONU divulgou uma estimativa que 18.000 estruturas de habitação haviam sido destruídas na guerra do verão passado (2014), deixando 108.000 palestinos desabrigados em Gaza. A maior parte do bairro oriental de Shuja’iiya tinha sido reduzida a escombros na guerra.
Um ano depois, pouca coisa havia mudado. A família de Wadi, no entanto, teve sorte. A apenas a um quarteirão da destruição mais intensa, a fundação da casa ainda está de pé e a família, aos poucos, ia reconstruindo-a.
A partida histórica
Faltando três semanas para o jogo histórico entre os clubes palestinos, os irmãos de Wadi estavam hospedados em um hotel com o restante do Ittihad Shuja’iiya. Seria a maior partida da equipe, desde o primeiro dia em que todos eles vestiram a camisa do clube. Ibrahim Wadi também fazia parte do elenco, embora não tenha entrado em campo por quase dois anos devido a uma lesão.
A torcida da casa assistiu ao primeiro jogo no Estádio Al Yarmouk, em Gaza. A partida terminou empatada com o placar final não saindo do 0x0, o que significava que o Shuja’iiya teria que vencer fora de casa, na Cisjordânia, para conquistar a troféu da Copa.
O jogo da volta
No início de 2015, Israel havia permitido uma maior liberdade de movimentação para atletas palestinos, depois que a Palestina tentou, em maio, impedir que Israel fosse banido da FIFA. Apesar desse acordo, a viagem de 39 milhas (63 km) da equipe de Gaza para a Cisjordânia, não foi nada tranquila.
O segundo jogo foi adiado porque sete membros da equipe Shuja’iiya foram impedidos de entrar em Israel, de acordo com o clube. Quatro dias depois, autoridades da segurança israelense permitiram a passagem de 38 membros da equipe pelo Cruzamento de Erês, que liga a Faixa de Gaza à Israel, após interrogar quatro jogadores por três horas.
Após passar por Erês, a equipe seguiu para Jerusalém, onde rezou na Mesquita de Al-Aqsa, antes de passar por um posto de controle israelense uma à Cisjordânia.
O clube afirmou, inclusive, que o nome de Ibrahim Wadi não tinha sido aprovado para cruzar a fronteira e com isso, tiveram que deixá-lo para trás. Wadi, que ainda está lesionado e não pode jogar, disse que não recebeu nenhuma explicação sobre os motivos de não ter sido autorizado a viajar com a equipe.
A COGAT – Israeli Coordination of Government Activities in the Territories (Coordenação de Atividades do Governo de Israel nos Territórios), não fez comentários quando perguntada especificamente sobre o caso de Wadi, limitando-se a informar à ABC News que 38 membros da equipe haviam recebido permissão para atravessar.
Quando a partida finalmente aconteceu, numa quinta-feira, o atraso só serviu para intensificar o senso de unidade nas arquibancadas, envolvendo torcedores das duas equipes que disputavam o título da Copa da Palestina.
“Não importa quem ganhe, esta é a nossa noite. Esta é a noite de Gaza. Esta é a noite da Palestina”, gritou Muhammad, um cidadão de Hebron, de 19 anos, com o rosto pressionado contra uma cerca de metal na primeira fila das arquibancadas.
Apesar do apoio da torcida presente no estádio, a equipe mais experiente de Hebron venceu o Shuja’iiya por 2×1, conquistando a Copa da Palestina.
Enquanto o técnico da equipe Shuja’iiya caía de joelhos em lágrimas no campo, a multidão aplaudia efusivamente Houssam, irmão de Wadi e capitão da equipe, no momento em que recebeu o troféu de segundo lugar.
“No final das contas, a único vencedor é a Palestina”, disse Wadi que assistia ao jogo pela TV, em Gaza.
• Matéria publicada originalmente pela ABC:
• Assista ao video produzido pela jornalista Molli Hunter:
• A história ilustrada do futebol árabe e de toda a Região do MENA (Norte da África e Oriente Medio), envolvendo clubes, seleções e troféus, no Portal do Futbox.
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