Festa na Floresta

Era um dia comum na floresta. O leão fazia seu passeio matinal, quando de repente avista algo estranho perto do lago. De longe parecia uma presa fácil para o rei dos animais. “Oba, vou fazer uma boquinha!”, pensou. Correu, preparando o bote, mas quando chegou perto, constatou, não era um animal e sim uma bola! “Uma bola”, disse satisfeito e já fazendo algumas embaixadinhas. Pegou a pelota e saiu em disparada para casa.

Pensou em fazer uma reunião para contar a novidade. Guardou a bola num saco velho e saiu gritando pela floresta: “Convocação para reunião extraordinária”, berrava. Todos os bichos atenderam ao chamado do rei e no horário marcado estavam lá, no meio da floresta.

Depois de muita confusão, fofocas e disse-me-disse, ninguém fazia idéia do que se tratava. “Fala logo aí, ô majestade!”, gritou o macaco. E depois de muito suspense, o rei mostrou aos súditos o objeto do seu desejo. “Uma bola!!!!!!”, gritaram os animais num coro quase ensaiado. Festa. Foi o que virou a reunião. Ninguém acreditava naquilo, uma bola. Pensaram em tudo. Idéias e mais idéias ferveram nas cabeças daquele reino.

Depois de muito discutirem marcaram o jogo. Dividiram os times e cada capitão, o leão e o tigre, tinham uma semana para preparem seus esquadrões. Foi uma semana agitada, todos se esforçando, “dando tudo de si”. A empolgação era tanta, que o elefante travou a boca e fez cooper todos os dias para emagrecer. Não conseguiu e foi parar no gol. E o “seu girafo”, coitado, ficou com uma baita dor de cabeça de tanto treinar cabeceio. Também, quem mandou ter um pescoço daquele tamanho. Virou um Jardel misturado com Dadá.

Chegado o grande dia, o campinho improvisado estava lotado. Torcida das duas equipes com bandeiras, faixas e tudo mais faziam a festa antes da pelota rolar. Fizeram até uma rádio com o papagaio narrando, o urso comentado e a hiena de repórter de campo. Coitada da hiena, achava graça de tudo, era uma pergunta e cinco risadas.

O gorila apitou (sobrou para ele ser o juiz, pelo menos assim sabiam que ninguém iria arrumar confusão com ele). Bola rolando! Jogo disputado, torcida tensa, todos os ingredientes de um verdadeiro clássico. Na primeira escapada, o leão tabelou com o rinoceronte e saiu na cara do gol. Chutou forte, no ângulo, e o goleiro voou para abraça-la. De repente um silêncio sepulcral toma conta da floresta. Todos cabisbaixos saem não acreditando. Depois disso, o porco-espinho abandonou as luvas e virou cartola.

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André Fidusi

Publicitário e jornalista por formação, ilustrador por vocação. Futebol na veia. Quem pede recebe, quem desloca tem preferência. Pegar de pé é dibra. Vamo que vamo!

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