Perna Curta

Se existe uma coisa mais sem criatividade do que o Tite, é o Brasil ser eliminado por uma seleção europeia na fase eliminatória das Copas do Mundo. A última vitória da seleção brasileira foi na final de 2002 contra a Alemanha, com dois gols de Ronaldo. Brasil pentacampeão.

Desde então, o futebol brasileiro vem passando por uma série de equívocos em relação à sua gestão, dentro e fora de campo. É bem verdade que esse cenário administrativo já existia antes da Copa de 2002, mas agora, o talento dos jogadores não está conseguindo mais absorver a falta de qualidade fora de campo.

No jogo que abriu as quartas da Copa do Catar, a Cróacia eliminou o Brasil nos pênaltis, após empate em 1 a 1 (placar construído na prorrogação, onde o Brasil vencia o jogo até o minuto 116, isto é, faltando apenas 4 minutos para o término da partida, quando tomou um gol de contra-ataque. Isso mesmo, contra-ataque. Haviam 7 jogadores brasileiros à frente da linha da bola no ataque, quando a Croácia roubou a bola e Fred, volante, estava na ponta direita). Uma completa bagunça.

Entretanto, o mais incômodo foi a Croácia ter controlado a partida do seu início ao fim. O agora ex-treinador brasileiro conseguiu superar Diego Alonso, ex-técnico do Uruguai, em inaptidão para o cargo. Seu desempenho em Eliminatórias foi o que restou para Tite, pois esse mesmo desempenho, em Copas do Mundo, foi um desastre. E vamos combinar, Copa do Mundo é o que importa, a classificação sul-americana é o paraíso de qualquer seleção, são 10 países disputando 5 vagas (incluída a repescagem), ou seja, um passeio pela Disneylândia. Afinal, o Brasil é ou não, pentacampeão do mundo?

Não satisfeito em ter desperdiçado duas participações em Copas do Mundo e 6 anos de preparação, toda a imagem construída ao longo desse periodo desabou ao final da cobrança de pênaltis contra a Croácia, quando Tite abandonou seus jogadores em campo. Vou repetir: abandonou seus jogadores em campo, muitos deles chorando pela primeira experiência de uma eliminação em Copas.

 

Louis van Gaal "levanta" Gakpo, após a eliminação dos Países Baixos. Foto DPA/FA Images

Louis van Gaal “levanta” Gakpo, após a eliminação dos Países Baixos. Foto DPA/FA Images

 

Perder faz parte do jogo, mesmo por incompetência, mas essa atitude foi lamentável do ex-treinador em relação aos seus jogadores. Era para ele ser o comandante, mas como já foi dito aqui: “A seleção que incomoda” (texto publicado logo após a vitória sobre a República da Coreia), Tite não tem comando sobre a seleção, pois essa é a seleção do Neymar.

Tudo esse cenário ficou claro, mais uma vez…, na cobrança dos benditos pênaltis: o maior jogador do Brasil, que também era para ser o líder em campo, mas para isso, antes precisaria ser adulto, não teve a chance se quer, de realizar uma cobrança. Seria o quinto a bater, mas isso não aconteceu, pois a Croácia “fechou a fatura” em 4 penalidades. E lembremos, a regra atual permite uma mudança na ordem dos cobradores. Então, algo previamente determinado poderia mudar, dependendo dos acertos ou erros nas cobranças dos pênaltis. Infelizmente, não houve essa comunicação entre Tite e Neymar e nem mesmo, uma atitude do camisa 10 em pegar a bola na quarta cobrança e dizer: “Essa é comigo, Marquinhos”. Qual era o plano, afinal? Deixar Neymar bater o pênalti da classificação para postar no Instagram ou TikTok? Não fizeram as contas durante as cobranças? Poderia não existir, como não exitiu, a quinta cobrança.

Além de tudo isso, o ex-treinador brasileiro adquiriu também o pior erro que um técnico pode cometer: substituir errado. Foi péssimo durante toda a Copa e no jogo contra “Modrić” (me lembrou o Zidane em 2006 contra o Brasil) ele se superou ao tirar o Vinicius Jr. faltando 30 minutos para o fim da partida. Trocou o destino do passe e não a origem, que não estava acontecendo. Morreu abraçado com suas “coerência” e “meritocracia”,  decorrente de sua vaidade e por achar sua filosofia inquestionável.

A Copa continua e não teremos mais a final entre Argentina e Portugal e o maior duelo da história do futebol, envolvendo Messi e Cristiano Ronaldo. Mas quer saber, “Viva Maghreb!”. Outra boa possibilidade numa final, além da presença de Marrocos, claro, seria Messi enfrentar Mbappé, que será o Rei estabelecido no futebol, independente do tricampeonato ou não da França. Neste texto, “Tempo”, é abordado o tema em questão.

 

Marrocos 1x0 Portugal. Classificação inédita de uma seleção africana para as semis de uma Copa do Mundo.

Marrocos 1×0 Portugal. Classificação inédita de uma seleção africana para as semis de uma Copa do Mundo.

 

Mas, como tudo tem um lado positivo na vida, no caso do Brasil, chegamos ao fim da “Era Tite”, um desperdício de tempo e de talentos e o melhor, não precisaremos ouvir mais o “Titês”, uma falácia em relação à processos de trabalhos, formação de equipe e estudos sobre modelos de jogo. Mentira tem perna curta.

O próximo técnico da seleção brasileira está na Europa, ele precisa morar lá, inclusive, pois os jogadores da seleção moram lá também, disputando os melhores campeonatos de futebol do mundo. Ele precisa estar em vários lugares observando e vendo o jogo se desenrolar, avaliar e entender todas as possibilidades táticas, pegar um trem-bala e se deslocar da Premier League para a Bundesliga ou La Liga, em menos de 2 horas, assistir o máximo de partidas da Champions e ter um assistente, por exemplo, morando no Brasil, por conta do Brasileirão e demais competições do país, além da Libertadores. O próximo técnico do Brasil precisa ser, de fato, da envergadura da história brasileira.

 

Foto de capa: Ina Fassbender | AFP

 

Podcast:

 

Clique na imagem abaixo e confira o bate-papo na íntegra no Bora Pra Resenha Podcast onde falamos sobre a revitalização das marcas dos clubes de futebol, seleção brasileira, calendário, VAR, regras atualizadas, as novas demarcações do campo e muitas outras curiosidades sobre a história do futebol:

Futbox no Bora Pra Resenha

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João Corneta

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