Arthur Wharton: conheça o primeiro jogador negro da história do futebol e que teria sido também, o homem mais rápido do mundo

Por seu trabalho para alimentar crianças em idade escolar durante a pandemia da Covid-19, Marcus Rashford foi condecorado pela rainha Elizabeth em 2021. O atacante da seleção inglesa e do Manchester United recebeu a medalha de Membro da Ordem do Império Britânico.

“Se vivesse hoje em dia, o mesmo aconteceria com Arthur Wharton. Ele esteve à frente do seu tempo em muitas coisas. Preocupar-se com os menos favorecidos e ajudá-los com dinheiro foi uma delas”, afirma o ex-lateral Viv Anderson, bicampeão europeu com o Nottingham Forest, em 1979 e 1980.

 

Imagem de Arthur Wharton. Foto: Arthur Wharton Foundation

Imagem de Arthur Wharton. Foto: Arthur Wharton Foundation

 

Anderson é um dos patronos da Fundação Arthur Wharton, criada para preservar e divulgar a memória do primeiro jogador negro da história do futebol profissional. Pelo menos que pode ser comprovado.

Mas isso seria resumir seus feitos. Ele também jogou críquete e rúgbi. Teria corrido, segundo a imprensa do Reino Unido no final do século XIX, os 100 metros rasos em menos de 11 segundos. A marca não foi reconhecida até hoje.

 

Arthur Wharton: número 32, disputando uma corrida de 100m

Arthur Wharton: número 32, disputando uma corrida de 100m

 

A fundação foi criada por iniciativa do empresário, Shaun Campbell. Um dos objetivos era comissionar a criação de uma estátua em homenagem ao goleiro em local a ser determinado. Ela já existe hoje em dia e está em St. George’s Park, o centro de treinamento da seleção inglesa.

“Há alguns anos, Usain Bolt se tornou jogador de futebol profissional por pouco tempo. Então, há apenas duas pessoas na história que foram os homens mais rápidos do planeta e jogaram futebol: Usain e Arthur Wharton”, lembra Campbell.

 

Estátua de Arthur Wharton

Estátua de Arthur Wharton

 

Entre 2018 e 2019, Bolt atuou por como atacante do Central Coast Mariners (AUS) e do Stromsgodset IF (NOR). No total, fez quatro partidas. Em campo, a carreira do seu antecessor foi bem mais relevante. Arthur Wharton nasceu na cidade de Accra, em Gana, em 1865. Aos 17 anos, mudou-se para Darlington, na Inglaterra. Como goleiro da equipe de mesmo nome, ganhou fama de excêntrico. Costumava ficar agachado ao lado da trave enquanto a bola não se aproximava de sua área. Foi reconhecido como um dos melhores da posição no país. Em 1889, pelo Rotherham Town, passou a atuar como profissional.

Lista de alguns casos de racismo no futebol europeu.

 

Nessa época, distribuía parte do seu salário para que famílias pobres da região sul de Yorkshire, onde estava o clube, conseguissem comer. Wharton jogou pelo Preston North End em 1887 e chegou à semifinal da Copa da Inglaterra, o torneio de times mais antigo do planeta e o mais importante também.

 

Arthur Wharton atuando como goleiro

Arthur Wharton atuando como goleiro

 

Arthur Wharton (goleiro) ao lado do troféu da Cleveland Cup

Arthur Wharton (goleiro) ao lado do troféu da Cleveland Cup

 

No ano seguinte, decidiu dar uma pausa na carreira de futebolista e se concentrar no atletismo. Perdeu a chance de fazer parte do elenco do Preston, o primeiro a conquistar a Liga Nacional (atual Premier League) e Copa na mesma temporada, a de 1889. Em vez disso, ele teria obtido outro feito. Em Stamford Bridge, estádio do Chelsea, teria corrido os 100 metros em menos de 11 segundos segundos (algumas publicações falaram em 10 segundos cravados).

O registro não é reconhecido pela World Athletics. Para a entidade, o primeiro recorde da prova é do americano Donald Lippincott, que marcou 10s60 em 1912. O goleiro atuou pelo Sheffield United em 1894 e fez apenas três jogos. Mas um deles, contra o Sunderland, foi pela primeira divisão, o que lhe deu outra marca: o primeiro negro a atuar em uma partida de torneio de elite no futebol mundial, com registro comprovado.

Arthur Wharton morreu em 14 de dezembro de 1930, aos 65 anos, em uma cova de indigente não identificada. O túmulo recebeu uma lápide em 1997, após uma campanha dos ativistas antirracismo Football Unites, Racism Divides (Futebol une, racismo divide).

Por iniciativa de Campbell e da fundação, um mural foi pintado em homenagem a ele em Darlington. Quando a Inglaterra foi derrotada nos pênaltis pela Itália, na final da Eurocopa de 2020, a imagem foi vandalizada com mensagens racistas logo apagadas por voluntários.

 

Mural em homenagem a Arthur Wharton. Darlington, Inglaterra

Mural em homenagem a Arthur Wharton. Darlington, Inglaterra

 

A seleção havia perdido depois de três cobranças desperdiçadas por jogadores negros: Rashford, Sancho e Saka.

“O trabalho da fundação é também promover a cultura da diversidade e lutar contra o racismo. A história e a imagem de Arthur inspiram isso”, completa Anderson, ele também um nome que está na história. Antes dele, nenhum jogador negro havia vestido a camisa da Inglaterra.

 

Placa em homenagem a Arthur Wharton: National Football Museum

Placa em homenagem a Arthur Wharton: National Football Museum

 

Confira o video produzido pela BT Sport sobre a vida e carreira de Arthur Wharton.

“Que vida notável. Não sabemos o quanto a história negra foi destruída.”

 

 

 

Foto de capa: divulgação

Matéria publicada originalmente na Folha.

Pesquisa fotográfica: Futbox

 

 

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Adriano Ávila

A prova inquestionável que existe vida inteligente fora da Terra é que eles nunca tentaram contato com a gente.

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