Cinema, Streaming, Jornalismo e a inversão total de sentido

Assisti recentemente ao filme “007 – Sem Tempo para Morrer”, de 2021. Com direção de Cary Joji Fukunaga, o trama mostra a última aventura de James Bond, o mais famoso espião da história, envolvendo talvez, todas as midias criadas até hoje. Muito bem interpretado por Daniel Graig, como sempre, Bond tem sua missão eterna: salvar o mundo. Só que dessa vez, sem final feliz.

Assim que acabou o filme, desliguei a TV e fiquei pensando na inversão total de sentido que vivemos na sociedade contemporânea. É uma daquelas pequenas coisas que às vezes nos provocam insights preciosos.

James Bond, e aqui vai um “Alerta de Spoiler”, é morto pelo Governo Britânico, literalmente, duas vezes: a primeira acontece quando são injetados nele os “nanorobôs”, desenvolvidos pelo próprio MI6 (Serviço Secreto Inglês) e a segunda sendo explodido por mísseis, disparados de navios britânicos, ordem que ele mesmo deu para que fossem lançados o quanto antes, mas que poderiam aguardar perfeitamente ele sair do local/destino de impacto dos mísseis. Em suma, roteiro sem sentido, preguiçoso e razo, que nos passa a impressão de ter sido feito a “toque de caixa”, sem a menor preocupação com o lastro da personagem criada pelo escritor londrino, Ian Fleming, há exatos 70 anos.

 

007 - Sem Tempo para Morrer: cena final onde Bond avista os mísseis

007 – Sem Tempo para Morrer: cena final onde Bond avista os mísseis

 

O mesmo acontece em escala com os filmes e animações realizados pela Marvel e DC, envolvendo seus super-heróis. “Zero” preocupação com a audiência de milhões de pessoas, de 8 a 80, onde boa parte cresceu lendo as histórias em quadrinhos, e que são o real significado de valor das gigantescas cifras em torno dessas produções, assim como acontece também com os torcedores mais humildes em relação às cotas de TV no futebol, cada vez mais deslocados para longe da arenas onde seus times do coração jogam, mas são contabilizados um a um, na precificação das cotas, nos patrocínios nas camisas, nas placas em torno do campo, etc.

Retornando à “sétima arte”, termo cunhado pelo intelectual italiano, Ricciotto Canudo, em 1911, os fãs parecem ser totalmente desprezados na elaboração dos roteiros dos filmes e, se essas obras são lançadas diretamente no streaming, o estrago é total. O carrossel para escolha do que assistir nesses ambientes digitais mais parece o quadro de Andy Warhol, “Latas de sopa Campbell’s”, quadro famoso e que projetou o artista norte-americano na década de 1960.

 

Andy Warhol: quadro "Latas de sopa Campbell’s"

Andy Warhol: quadro “Latas de sopa Campbell’s”

 

A cereja do bolo envolvendo nossa inversão de sentido acontece no jornalismo atual, onde se dá exatamente o contrário, uma total subserviência à audiência, formada em sua quase maioria, por jovens sem muito conhecimento sobre aquilo que opinam, exijem ou “cancelam”, determinando as pautas dos programas jornalísticos e até memso, do que será aprofundado ou não, possuindo muitas vezes o mesmo peso da relevência histórica do eventual fato a ser divulgado ou não. Condicionam até mesmo o linguajar e o comportamento de alguns jornalistas e comentaristas, que devem sofrer também, importante que se diga, a pressão de executivos e diretores fora das câmeras.

Olavo Leite de Bastos, o saudoso Kafunga, goleiro que defendeu as metas do Clube Atlético Mineiro entre 1935 e 1954, tinha uma frase célebre: “No Brasil, o errado é que tá certo”. Foi, inclusive, comentarista de TV nos anos 1980, onde teve mais frases famosas como: “vapt-vupt”, “não tem coré-coré” e “gol barra limpa”.

O cinema, o streaming e o jornalismo revelam bem a inversão total em que nos encontramos, vivendo em uma sociedade contemporânea onde não ter sentido, parece ser estratégico apenas para alguns.

 

(Confira abaixo, a última entrevista de Kafunga no programa Bom Dia Minas, em 1991. Oito minutos imperdíveis):

 

 

 

Podcast:

 

Clique na imagem abaixo e confira o bate-papo na íntegra no Bora Pra Resenha Podcast onde falamos sobre a revitalização das marcas dos clubes de futebol, seleção brasileira, calendário, VAR, regras atualizadas, as novas demarcações do campo e muitas outras curiosidades sobre a história do futebol:

Futbox no Bora Pra Resenha

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Adriano Ávila

A prova inquestionável que existe vida inteligente fora da Terra é que eles nunca tentaram contato com a gente.

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