Rápido e Rasteiro como Diniz no Cruzeiro

Fernando Diniz foi apresentado ontem, 23 de setembro, como o novo técnico do Cruzeiro. Contrato vai até final de 2025. O melhor técnico brasileiro da atualidade estava desempregado, até então.

Mineiro de Patos de Minas, Diniz, com 50 anos hoje, foi jogador do time celeste em 2004. Meio-campista, participou de oito jogos em sua curta passagem pelo clube.

Uma parte considerável da imprensa, como sempre, fala em aposta e lista o eventuais motivos que levaram o Cruzeiro à sua contratação, após “frustrações” no comando do Fluminense e da seleção brasileira.

Ansiedade e a necessidade de cliques a qualquer custo, a falta de percepção do todo e de conhecimento sobre o que significa, de fato, o “futebol”, continuam sendo os principais desafios da nossa sociedade contemporânea, sendo o último, específico de uma parte da imprensa esportiva.

(Mais no artigo: Cinema, Streaming, Jornalismo e a inversão total de sentido).

Diniz é o atual técnico campeão da Libertadores e da Recopa Sul-Americana pelo Fluminense. Já pela seleção, foram seis jogos apenas, todos pelas eliminatórias para a Copa de 2026: 2 vitórias (Bolívia e Peru), 1 empate (Venezuela) e 3 derrotas (Uruguai, Colômbia e Argentina). Fora da curva seria apenas o empate contra a Venezuela. Entretanto, não deram tempo para Diniz implementar sua filosofia de jogo. Dorival Júnior foi o escolhido para o seu lugar. Como treinador, apenas.

Existe uma diferença, sutil para alguns e muito clara para outros, entre técnico e treinador. O primeiro deixa um legado, forma gerações e pode entrar para a história do futebol. O segundo, no máximo, conquista títulos.

 

Mas os títulos não seriam a única coisa que importa no futebol?

 

Na verdade, não. Os gestores do futebol brasileiro acreditaram nisso e a seleção vive o seu pior momento em muitas décadas, para não dizer na história. O Brasil não produz mais o famoso “camisa 10” e também, faltam adultos dentro de campo. A geração atual, refém das redes sociais, é formada por eternos adolescentes que ainda têm como ídolo, um exemplo equivocado de jogador e de sucesso.

(Mais a respeito desse tema no artigo: A desconstrução estética e tática do futebol brasileiro).

O futebol brasileiro precisa retornar às suas origens, usando o que a Europa tem de melhor, como parte dos ingredientes e não, como uma receita fechada. O único técnico brasileiro que desperta o interesse em outros técnicos no “Velho Continente”, por exemplo, é Diniz. Em paralelo, Felipão, Parreira, Tite e Dorival Júnior são treinadores competentes, com méritos em suas conquistas, mas também, responsáveis diretos pelo desabamento do nível técnico e pela descaracterização da seleção brasileira, desde 2006, último lampejo do Brasil sendo Brasil.

Fernando Diniz é o técnico mais brasileiro, desde Vanderlei Luxemburgo (1989 a 1996 e 2003). Antes disso, tivemos o melhor de todos: Telê Santana. Agora, no Cruzeiro, Diniz possui todas as condições para realizar um excelente trabalho. Um tem a cara do outro e o clube, depois de três anos na Série B e do acesso em 2022, tem reais condições de oferecer uma estrutura adequada, dentro e fora de campo, para o técnico desenvolver o seu modo de ver e de jogar futebol, isto é, o Brasil sendo Brasil.

Diniz vai precisar de tempo para isso, mas talvez, após sua experiência no comando da seleção, adote um procedimento mais “homeopático” no Cruzeiro, em pequenas doses, pois o time celeste está a 4 jogos do oitavo título sul-americano da sua história.

 

Foto de capa: Getty Images | Arte: Futbox

 

 

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Adriano Ávila

A prova inquestionável que existe vida inteligente fora da Terra é que eles nunca tentaram contato com a gente.

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