Super Mundial: a diminuição do valor dos clubes pela entrada dos seus jogadores em campo

A fase de grupos do Mundial de Clubes terminou, finalmente. A partir de agora, teremos os “tão aguardados” jogos eliminatórios, com todos os brasileiros presentes e sem nenhum argentino. Uma pena para o futebol sul-americano. Contudo, o México continua vivo. A diplomacia externa agradece ao Monterrey.

Assistindo aos jogos, poucos na verdade, o que mais me chamou a atenção foi a entrada em campo solitária dos jogadores, ao invés dos times completos, como manda a tradição no futebol. Um a um, os jogadores vão sendo chamados pelos sistemas de sons dos estádios – confesso que tenho dificuldades com o termo “arena”. Dessa forma, não presenciamos mais as entradas dos times em campo, onde as torcidas os recebiam com toda a emoção que uma arquibancada podia oferecer.

Isso me incomodava toda vez que aguardava uma partida começar. (A entrada “triunfal” dos jogadores no video abaixo). Num primeiro momento, pensei que seria por causa da idade, o que de fato, contribuia. Mas não era só isso.

 

 

Quando a esmola é demais, o santo desconfia

 

A Fifa, entidade organizadora desse Mundial, trava uma luta – nem sempre velada – com a Uefa e os clubes europeus há um bom tempo. Basicamente, desde quando a Liga dos Campeões da Europa começou a ameaçar o prestígio técnico e financeiro da Copa do Mundo (de seleções) e, em paralelo, ao iminente esvaziamento de craques e ídolos dessa mesma Copa, uma vez que a prioridade seria a Liga dos Campeões.

A Copa do Mundo geralmente acontece de junho a julho, no final da temporada europeia e, devido ao calendário bizarro que insiste em perdurar, provoca lesões e fadigas musculares nos principais jogadores das seleções classificadas.

A solução para esse duelo, por parte da Fifa, foi o “Super Mundial”, derramando um caminhão de dinheiro para sensibilizar os clubes do velho continente sobre a importância do torneio.

Existe um ditado popular que diz: “quando a esmola é demais, o santo desconfia”. O futebol possui muita paixão e tradição em sua origem e consolidação ao redor do mundo e precisa, ao mesmo tempo, conversar com os avanços tecnológicos e se relacionar com os torcedores, atuais e futuros.

A inovação acontece de fato, quando estabelecemos o equilíbrio entre o passado do esporte e os hábitos contemporâneos de lazer e consumo. (Neste artigo, mais a respeito sobre o tema: VAR: a inovação não está na tecnologia, mas sim, no comportamento).

 

Expectativa e realidade

 

A entrada “conta gotas” dos jogadores em campo, cheia de luzes, purpurina e lantejoula, não tem nada a ver com isso. Apresentações como essa já haviam sido praticadas em edições passadas da Olimpíada, Liga Mundial de Vôlei e NBA, mas nesse último caso, condizente com a cultura do basquete, de forma orgânica e até, sincera com o próprio esporte, diferente do futebol.

Na sequência de fotos abaixo: a expectativa para a entrada dos times, tudo preparado no estádio e a realidade um tanto constrangedora dos jogadores sendo chamados. Importante frisar que esse tipo de formato faz muito sentido nos Estados Unidos, mas o ideal será sempre promover o equilíbrio entre tradição e inovação, dito anteriormente.

 

Os times (jogadores) da Juventus e do City se preparam para entrar em campo

Os times (jogadores) da Juventus e do City se preparam para entrar em campo

 

O estádio aguarda a entrada dos times

O estádio aguarda a entrada dos times

 

A chamada um a um, nada empolgante, dos jogadores

A chamada um a um, nada empolgante, dos jogadores

 

Não existe almoço grátis

 

Quando os jogadores entram em campo – um a um – ao invés do time, isso provoca um distanciamento do público/audiência em relação ao clube, onde o foco passa a ser o jogador e não mais, o clube. Soma-se a isso, o estreitamento entre as relações dos empresários dos jogadores com a entidade organizadora do Super Mundial, no lugar da antiga relação com os cartolas, donos ou presidentes dos clubes de futebol. Fico na dúvida, porém, se isso seria melhor ou pior para o futebol. Mas, com certeza, é pior para os clubes.

No mercado do futebol nada é por acaso. Os clubes receberam muito dinheiro para participar de um torneio que, na verdade, possui alguns objetivos pouco observados e estratégicos para a Fifa. Entre eles, a diminuição do valor dos próprios clubes de futebol como instituições.

O cenário pode parecer paradoxal, mas a construção do modelo de negócios, por parte da entidade, vai além das cifras. (Veja aqui o ranking de premiação de todos os times do Mundial).

Com o tempo, as cotas de participação irão diminuir e os lucros do torneio, aumentar. Se um jogador for fundamental para o sucesso do Mundial, ele vai mudar de clube e desfalcá-lo do restante da temporada. A presença do Inter Miami no torneio nos deu algumas pistas do que está por vir.

É mais fácil, para quem organiza o torneio, controlar os agentes e empresários dos jogadores, consequentemente, os próprios jogadores, do que controlar os clubes onde eles jogam.

 

Foto de capa: divulgação

 

(Confira aqui a história ilustrada de todos os títulos mundiais de clubes, masculinos e femininos: Futbox.com/campeonatos)

 

 

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Podcast:

 

Clique na imagem abaixo e confira o bate-papo na íntegra no Bora Pra Resenha Podcast onde falamos sobre a revitalização das marcas dos clubes de futebol, seleção brasileira, calendário, VAR, regras atualizadas, as novas demarcações do campo e muitas outras curiosidades sobre a história do futebol:

 

Futbox no Bora Pra Resenha

Futbox no Bora Pra Resenha

 

FUTBOX – Centro de Pesquisa Gráfica Sobre Futebol:

 

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Adriano Ávila

A prova inquestionável que existe vida inteligente fora da Terra é que eles nunca tentaram contato com a gente.

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