INTERCOLONIAL CUP
Uma competição global entre clubes campeões continentais não deveria promover o desequilíbrio técnico e financeiro entre os continentes, ainda mais quando um desses se beneficiou, durante séculos, pela exploração dos recursos minerais, vegetais, culturais e o mais grave de todos, pela mão de obra escrava de outros continentes.
Entender e executar o futebol como ferramenta de inclusão social e fator de desenvolvimento humano e econômico pelo mundo poderiam ser, de fato, as prioridades das entidades esportivas, sejam estaduais (no caso do Brasil), nacionais, continentais e, principalmente, mundiais.
O novo formato da Intercontinental Cup vai em desencontro a tudo isso, envelopado num discurso sobre o fortalecimento do futebol de clubes pelo mundo, por meio de um torneio que, na verdade, poderia ser chamado de INTERCOLONIAL Cup.
O desenvolvimento do futebol ou de qualquer outro esporte pelo mundo se faz pelo mundo e não, em uma única competição para “inglês” ver, isto é, as entidades globais precisam atuar na “cozinha” de cada país, em parceria com as federações e demais profissionais locais, focando nas crianças e jovens, geralmente em situações de risco ou precárias nos continentes “não-europeus”.
Um vez estabelecida essa cultura e estrutura de atuação conjunta, seria possível realizarmos uma competição mundial de clubes com isonomia e respeito pela história do futebol, em todos os continentes e não, elaborar um torneio paradoxal, onde existem ao mesmo tempo, o preconceito velado em relação aos demais continentes, junto ao discurso de enaltação e valorização dos mesmos. Os clubes europeus são o que são, por conta dos jogadores de todas as partes do mundo.
Em fevereiro de 2023 o Futbox publicou um artigo em seu Blog apresentando uma proposta para o Novo Mundial de Clubes: 5 datas apenas com os 6 campeões continentais distribuidos em dois Grupos de 3, todos contra todos em seus grupos e sem a presença do clube do país-sede. Dessa forma, seriam mantidos a isonomia e o mérito dos títulos continentais envolvidos na disputa do Mundial. E ainda, a garantia (para torcedores e patrocinadores) de 2 jogos para todos os 6 clubes envolvidos. Mais relevância e significado para o título em disputa.
(Todos os detalhes aqui: Mundial de Clubes: menor, melhor e maior!)
Cereja do bolo e não, solução
O Mundial de Clubes precisa ser a “cereja do bolo” e não a “solução” para o desenvolvimento do futebol pelo mundo. Uma competição mais justa, inclusiva, mais emocionante, com 2 jogos garantidos para todos os clubes participantes (campeões continentais apenas), consequentemente, muito mais interessante para os torcedores e patrocinadores (dos clubes e da própria competição), sem impactar o calendário, além de entender e celebrar o que realmente representa ser, um clube campeão mundial.
Por falar em calendário, o Futbox apresentou para a CBF no final de 2021, uma proposta para o Novo Calendário do Futebol Brasileiro. A proposta contemplou mais de 600 clubes com jogos durante todo o ano e com sustentabilidade para todos, durante o periodo. E ainda: nenhuma Data FIFA utilizada, a valorização das Séries B, C, D e também, a criação da Série E. Por fim, ou começo, o Brasileirão – Série A em reais condições de competir, técnica e financeiramente, com a Europa e o mapeamento eficiente de cada Real ou Dólar investidos num jogador, clube ou competição. A experiência do torcedor em evidência.
Importante frisar: todas as soluções para o futebol brasileiro passam pela reformulação do seu calendário.
(Download da Proposta completa aqui).
Às vezes é preciso mudar para que as coisas continuem do mesmo jeito
O “novo” formato da Intercontinental Cup foi decupado abaixo, passo a passo até a final. Confira as “5 Partidas” que todos os clubes irão realizar para a disputa do “título mundial”, contra o campeão europeu, que fará apenas 1 jogo, exatamente a Final. (Matéria publicada em 20 de setembro de 2024, no site da Fifa).
PARTIDAS 1 e 2 – African-Asian-Pacific Cup (Copa Afro-Asiática e Pacífico):
Para o novo formato da Intercontinental Cup, os campeões das confederações da África, Ásia e da Região do Pacífico abrirão o torneio, competindo pela African-Asian-Pacific Cup.
A Partida 1 será um play-off (jogo único) entre os campeões da “AFC Champions League” (Liga dos Campeões da Ásia) e da “OFC Champions League“ (Liga dos Campeões da Oceania), na casa do melhor clube colocado (entre os dois) pelo ranking da Fifa.
A Partida 2 será o primeiro jogo do torneio com um troféu em disputa, já que o vencedor da “Partida 1” enfrentará o campeão da “CAF Champions League“ (Liga dos Campeões Africanos), valendo o título da African-Asian-Pacific Cup, em jogo único, na casa do clube melhor ranqueado pela Fifa.
Além do título de “campeão interregional”, o vencedor da African-Asian-Pacific Cup se classificará para a próxima fase do torneio (Partida 3).
PARTIDA 3 – Derby of the Americas (Derbi das Américas):
O “Derbi das Américas” será a Partida 3, colocando frente e frente os atuais campeões da Concacaf Champions League (Liga de Campeones de la Concacaf) e da Copa Libertadores da América (Conmebol) em partida única.
Diferente da “African-Asian-Pacific Cup”, o Derbi das Américas será realizado em um local neutro. O vencedor dessa partida se classificará para a próxima fase: a Challenger Cup (Copa Desafio).
PARTIDA 4 – Challenger Cup (Copa Desafio):
A Challenger Cup será a Partida 4, realizada no mesmo “local neutro” da fase Derbi das Américas (Partida 3) e contemplará o vencedor dessa partida e o campeão da African-Asian-Pacific Cup.
Os dois clubes vencedores em questão disputarão um segundo troféu, a Challenger Cup, além da classificação para a “Intercontinental Cup”.
PARTIDA 5 – Intercontinental Cup (Copa Intercontinental):
Finalmente chegamos na Partida 5. A disputa pelo título da Intercontinental Cup será em jogo único, realizado no mesmo “local neutro” das “Partidas 3 e 4”, determinando o clube “campeão mundial”.
A Partida 5 contemplará os campeões da UEFA Champions League (Liga dos Campeões da Europa) e da Challenger Cup (vencedor da Partida 4: Derbi das Américas x Copa Afro-Asiática e Pacífico).
Vários pesos e medidas para a disputa do “título mundial”
O formato acima parece mais um jogo de videogame, onde os clubes da África, Ásia, Américas e Oceania vão conquistando o direito de enfrentar o campeão europeu, formado quase sempre por jogadores de todos os continentes e quase nunca, para não dizer nunca, por jogadores do próprio “Velho Continente”.
A exploração dos recursos e da mão de obra presentes no periodo das grandes navegações continua, modificando apenas a forma de como são apresentadas eventuais “soluções”, que não possuem os objetivos citados no início do artigo e sim, desafogar apenas o calendário dos clubes europeus, deixando escapar uma visão preconceituosa, por parte das entidades que organizam torneios globais de clubes, em relação ao futebol praticado em todos os continentes.
O talento e a competência dos clubes europeus não são suficientes para o sucesso do futebol na Europa. Lembre-se disso sempre.
Todos os clubes campeões mundiais, desde 1960:
“Copa Intercontinental” (1960 a 1979) e a “Copa Europeia | Sul-Americana” (1980 a 2004).
Foto de capa: Ilustração de como seria o brigue Camargo, em 1852, antes do naufrágio. (Mais detalhes aqui).
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